Gostei do livro, mas
principalmente a partir da página 260. Até ao momento do atentado de que foi
alvo, Malala foi-nos apresentando os usos e costumes do povo pastó. A forma
como fala da beleza da sua terra, o vale Swat, antes da ocupação dos talibãs,
faz imaginar uma paisagem de sonho, fora da poluição do mundo moderno.
Mas, ao
mesmo tempo transporta-nos para um sem número de tradições que me fazem
agradecer a Deus o facto de viver noutra civilização, onde o nascer mulher é
uma alegria para os pais e para toda a família, onde a mulher tem acesso à
educação tal como os homens. Dá também para vislumbrar uma pequena parte do
imenso sofrimento de todos, homens e mulheres, velhos e crianças, quando um
poder despótico, sem qualquer respeito pelos valores da fé, que dizem professar,
se apodera de um povo. Viver assim, em receio constante de fazer seja o que
for, até brincar, é aflitivo.
Também me impressionou a forma como fazem o
recrutamento dos jovens e dos homens adultos para os enviarem em missões
suicidas. Os mandantes não vão, obrigam os outros a ir e, para isso, parece que
lhes fazem uma lavagem ao cérebro. As intrigas políticas que, paralelamente vão
sendo tecidas, de forma a parecer que combatem os talibãs mas, ao mesmo tempo,
a darem-lhes guarida, é também preocupante. Foi este misto de horror, de
preocupação e ao mesmo tempo de admiração por quem, mesmo sabendo os perigos
que corre, como Malala e o seu pai, tenta lutar contra a obscuridade e a
ignorância, a prepotência e o medo, ajudando os que lhe batem à porta, ou os
que recolhem do lixo os desperdícios, para com eles sobreviver, que me fez
gostar do livro. Que Deus proteja toda a humanidade das tiranias, sejam elas de
esquerda, ou de direita, civis, ou religiosas.
Mais
em pormenor
Detenho-me nas páginas a
partir da pág. 260.
Foi verdadeiramente
absorvente esta parte do livro. A forma como Malala nos conta tudo o que
passou, prendeu-me até ao fim do livro. Impressionante!
Pág.265 – “Rezem pela Malala
– pediu-lhes o meu pai.”
Ao longo de todo o livro, mas mais nesta
parte, sinto que se toca a alma do viver de pessoas que professam a fé
muçulmana. Não se trata de radicalismos, mas de vida de fé, em Deus.
Pág.267 – “Precipitou-se
para casa e deu a notícia à minha avó, que vivia então connosco. Implorou-lhe
que começasse a rezar de imediato. Acreditamos que Alá ouve com mais atenção os
que já têm cabelos brancos.(…) A minha mãe ficou deveras surpreendida ao ver
toda aquela gente. Sentou-se no tapete das orações e recitou do Alcorão. Disse
às outras mulheres: - Não chorem; rezem!”
Esta é a expressão de alguém
que verdadeiramente confia em Deus e recorre, ao que de mais profundo tem o
coração humano, a oração, para fazer chegar até Deus a dor que lhe vai na alma.
Pág.268 – “Enquanto
observavam o helicóptero, voando por cima delas, a minha mãe tirou o lenço da
cabeça – um gesto extremamente raro numa mulher pasto – ergueu-o ao alto,
segurando-o com ambas as mãos, como se de uma oferenda se tratasse. – Meu Deus,
confio-a ao Vosso cuidado – disse ela aos céus. Não aceitamos a proteção da
polícia; Vós sois o nosso protetor. Ela estava sob a Vossa proteção e Vós
tendes de no-la devolver.”
Este é um verdadeiro ato de
fé em Deus, por parte desta mãe.
Pág.281 – “A minha mãe
continuava a rezar – mal tinha dormido. Faiz Mohammad dissera-lhe que devia
recitar a Sura da Haj, o capítulo do Alcorão sobre a peregrinação, e ela
recitou, vezes sem conta, aqueles doze versículos (58-70) sobre a omnipotência
de Deus. A minha mãe disse ao meu pai que sentia que eu viveria, mas o meu pai
não conseguia vislumbrar como. Quando o coronel Junaid veio inteirar-se do meu
estado, o meu pai voltou a perguntar-lhe: - Ela vai sobreviver? – Acredita em
Deus? – perguntou-lhe o coronel? – Sim, acredito – respondeu o meu pai. O
coronel Junaid apresentava ser um homem de grande profundidade espiritual. O
conselho dele era que apelássemos a Deus, que ele responderia às nossas preces.”
Deus nunca fica indiferente
a um coração de mãe que assim confia n’Ele. É toda uma profundidade de fé que
sustenta o viver desta família e que, num momento trágico, como o do atentado a
Malala, faz sobressair a confiança, a fé em Deus.
O contraste que se verifica
entre a vivência dos povo pastó e a nossa cultura ocidental atual, que já teve
uma verdadeira profundidade espiritual radicada em Deus, durante tantos
séculos, mas que agora passa por uma fase, em que a relação com Deus não é
vivida numa comunhão profunda, nem é essencial para dar sentido à vida, faz-me
desejar que recuperemos a saúde espiritual, que repassa por estas últimas
páginas do livro da Malala.
A Europa precisa urgentemente de recuperar a sua
matriz judaico-cristã. Esta é a sua identidade. No meu entender, se o não fizer,
arrisca-se a desparecer, enquanto civilização!
Pág.324 –(…) “No espaço de
um segundo, fez o meu cérebro inchar, roubou a minha audição e cortou o meu
nervo facial. E, depois desse segundo, houve milhões de pessoas a rezar pela
minha vida e médicos talentosos que me devolveram o meu corpo. Eu era uma
rapariga boa. No meu coração albergava apenas o desejo de ajudar as pessoas. E
isso não tinha nada a ver com prémios, ou dinheiro. Sempre pedi a Deus: -Quero
ajudar as pessoas, por favor ajudai-me a fazê-lo.”
Esta é Malala que me fez olhar para o outro lado dos
muçulmanos, muito para além dos radicais que profanam o nome de Deus, semeiam o
terror por onde passam, tiranizando e tentando assassinar todos os que se opõem
às suas ideias, impondo a ignorância e a prepotência sem limites.
Pág.304 – “A
minha mãe, por exemplo, diria que uma pessoa assim não pode ser muçulmana.”
Gostei mesmo muito de
perceber, que num mundo que despreza a mulher, esta, quando lhe é dada
oportunidade, demonstra uma força sem limites, como foi o caso de Malala e de sua mãe. Pág.305 –“Quando o meu pai
voltou para junto de minha mãe disse-lhe: -És uma grande mulher. Todo este
tempo pensei que eu e Malala éramos os ativistas, mas tu sabes mesmo como fazer
uma ação de protesto!
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