Acordámos com o despertador às 5h30 e com os pés molhados. Os
expressores que regavam a relva eram demasiado fortes e lançavam-nos
água para cima. Ainda assim tivemos muita sorte porque o resto do parque
estava completamente molhado e nós estávamos protegidos pelo escorrega.
Além disso estava imenso frio.
Para pequeno almoço tínhamos
umas sandes de porco que nos tinham oferecido na festa e que tivemos de
comer dentro do saco de cama, a tremer de frio.
Depressa nos
aprontámos e nos fizemos ao caminho. Tínhamos apenas 30 km para fazer
até ao destino que era o parque do Buçaquinho.
Fomos
convidados a participar num projecto dos nossos amigos escuteiros do
Núcleo de Terras de Santa Maria, Região do Porto, que se chama "Crianças
ao Rubro", e que consiste em nós, escuteiros, preparar-mos uma
atividade escutista para jovens de instituições.
Com a vontade
de chegar fizemos 25km de manhã e o restante logo a seguir ao almoço.
Ainda não eram 16h quando chegámos ao parque no Buçaquinho. As crianças
ainda não estavam em campo, de modo que nos juntámos à equipa nas
montagens. Pelas 21h as crianças chegaram e deu-se início a atividade.
Dividiram-se os jovens em patrulhas e explicámos tudo à cerca de uma
atividade de escuteiros. Eles pareciam motivados e entusiasmados. Eu e o
JP estávamos de rastos. Assim que nos deitámos foi tiro e queda.
Dormimos descansados porque decidimos antecipar o nosso dia de descanso e
ficámos a participar na atividade.
"Dia de descanso" 17 Ago 2017
Dia de descanso com alvorada às 8h.
Dormimos
num pavilhão com os miúdos, acordámos, arrumamos tudo e vendamo-los. Em
fila indiana, agarrados uns aos outros, foram levados até ao campo, que
previamente preparámos e onde apenas tinham de montar as tendas e fazer
mais alguns acabamentos, como por exemplo o pórtico de cada sub-campo.
Tiveram toda a manhã para prepararem os seus sub-campos, bandeirolas,
gritos e lemas de patrulha.
O almoço foi comida selvagem. Eu,
o JP e o Zé tratámos de fazer o fogo, onde depois cozemos ovos, pão com
chouriço, batatas e bananas com chocolate enroladas em prata. Estava
delicioso, o trabalho em equipa para esta refeição foi fundamental.
Logo
de seguida fomos ao Aeródromo de Manobra N°1 da Força Aérea, onde
visitámos um dos dois hangar, que atualmente apenas serve de museu. A
visita foi muito interessante, principalmente para os interessados em
mecânica e física.
À volta para campo fomos visitar as estufas de um senhor francês, amigo do nosso chefe de campo Artur, especialista em Bonsai. Sinceramente achava mesmo que um Bonsai era uma espécie de árvore que não crescia mais do que aquela medida e que podíamos ter em casa por muitos anos, mas estava completamente errado. Um bonsai significa que é uma árvore pequena que podemos ter em casa, mas que pode ser qualquer espécie de árvore. Na prática é uma técnica que consiste em ir podando, adubando, cortar as raízes de tempos a tempos, ir diminuido os tamanhos dos vasos e aramar as plantas para se manterem naquela posição. Sabia que haviam pequenas árvores destas com dezenas de anos mas só não tinha noção dos seus preços. Naquela estufa estava uma árvore de 86 anos e custava 5 mil euros, uma pequena fortuna.
De volta ao campo e logo com um problema complicado. A guarda florestal estava lá e disse que era ilegal acamparmos naquele local, quando tínhamos permissão por parte de outras entidades, mas foi debatido a quem de direito e acabámos por ter de mudar todo o campo já montado para uns 100m ao lado, uma chatice enorme e um trabalho super frustrante. Tivemos de mudar 4 mesas e reamarrá-las, pórticos, todas as tendas, todo o material de cozinha, abrir uma nova fossa, transportar o material do oratório e vedar de novo todo o campo com as divisões dos sub-campos. Uma tarefa desmotivadora mas que foi concluída com sucesso e já conseguimos confeccionar e servir o jantar no novo campo.
De seguida deu-se a cerimónia de atribuição de totem (alcunha escutista, que tem de ter o nome de um animal que nós gostemos ou que tenha qualidades idênticas às nossas e um adjectivo que nos qualifique), na qual eu e o JP fomos batizados, pois nunca tínhamos oficializado um totem em tantos anos de escutismo. Eu fui batizado como Gorila aventureiro e o JP como Jaguar sensual. No final da noite o nosso amigo e coordenador deste projeto Rúben Almeida chamou-nos diante de toda a gente, ofereceu-nos uma insígnia como sinal de agradecimento pelo nosso trabalho em campo e ainda recebemos um "Buen Camiño" de toda a multidão. Um momento super gratificante. Terminou assim para nós a atividade "Crianças ao Rubro" e os dias de descanso. Certamente não nos iremos esquecer deste dia.
Etapa n°7 - 18 Ago 2017
Acordámos
às 6, mas só saímos da cama às 6.30, já antes de partir estávamos
cansados. Arrumamos tudo e reparámos que nos tinham deixado ao lado um
cestinho com fruta, barras de cereais, bolachas e um bilhete que dizia
para nos servirmos e levarmos algumas coisas para o lanche. Assim fizemos.
Do Parque do Buçaquinho fomos até Esmoriz, onde
bebemos o café e pedimos algumas indicações. Fomos pelos passadiços
costeiros. Ainda andámos alguns kilometros só em passadiços,
atravessámos a praia de Espinho e ainda percorremos mais algumas praias,
mas estava a fazer-se tarde e fomos diretos ao centro de Vila Nova de
Gaia, onde almoçámos. De tarde andámos um pouco pela baixa do Porto,
pela ponte D.Luís e claro, como sempre que vamos ao Porto, fomos dar uma
espreitadela à loja LaVentura de material outdoor.
Fazia-se tarde e fomos até à sede de escuteiros do Agrupamento
1104-Paranhos, local onde iríamos pernoitar, e que a nossa amiga Mariana
Duro nos orientou.
Para celebrar sensivelmente meio caminho e
por estarmos no Porto decidimos que era jantar de ostentação e fomos a
um restaurante comer uma francesinha.
Etapa n°8 - 19 Ago 2017
5h30
e o despertador a fazer o seu trabalho, mas com o corpo a pedir mais
descanso fomos adiando o despertador até que às 6 teve de ser. Nas
últimas noites não temos dormido mais do que 6horas, o que é bastante
pouco para os dias que temos levado.
Na paragem do café da
manhã percebemos que ninguém naquele café sabia o que eram os caminhos
de Santiago, e achámos mesmo estranho.
Como nos tínhamos
esquecido de comprar o pequeno almoço a horas acabámos por comer apenas
duas ou três bolachas Maria e um copo de água para empurrar. Então, ao
lanche da manhã comemos uma boa taça de leite com cereais e foram nesses
15 minutos de paragem que percebemos que o panorama agora era
completamente diferente. Nesse curto espaço de tempo passaram cerca de
10 peregrinos, quando até ao Porto apenas tínhamos encontrado dois
casais de espanhóis. Também começámos a notar que o caminho é agora mais
comercial, muitas mais coisas alusivas ao caminho, cafés, bugigangas,
"Menus do peregrino" nos restaurantes e muitas placas a publicitar
albergues.
Esta etapa fez-me lembrae o Paris-Roubaix...paralelos e mais pararelos. Não matam mas moem.
Ao
almoço parámos num café como sempre e apenas pedimos a bebida. Comemos e
quando estávamos a descansar um pouco, sem querer, adormecemos os dois
em cima da mesa e só voltámos a acordar com a chegada de outros
peregrinos. Eles perguntaram-nos se nós já estávamos cansados no
primeiro dia, com ar de brincadeira, mas retiraram o que disseram quando
dissémos que já era o nosso nono dia.
Partimos até ao
Mosteiro de Vairão sem dificuldades e instalámo-nos. O nosso quarto
tinha mais duas camas onde ficaram um alemão e um holandês, a quem
acabámos por fazer o jantar e conversar um pouco. Chegou para perceber
que não estavam muito bem preparados e apenas iriam acordar por volta
das 8 horas. Ainda lhes tentámos avisar que o dia ia estar muito quente,
mas não fizeram muito caso.
Etapa n°10 20 de Ago 2017
Esta noite conseguimos dormir cerca de 8 horas e já conseguimos acordar às 5.30h.
No café da manhã ainda apanhámos malta que vinha da noite e entrámos na brincadeira com eles.
A
meio da manhã passou-nos uma raposa mesmo à frente, pareceu que ia
atacar um cão pequeno que lá estava, mas assim que nos viu voltou logo
para trás e entrou pelo enorme campo de milho.
O dia deu
sinais de que ía ser super quente, por isso, por volta do meio dia
encontrámos um mini-mercado aberto e comprámos logo o almoço que comemos
mesmo ali na sombra mais próxima e onde dormimos uma valente sesta.
Saímos já passava bem das 14h e mesmo assim ainda estava um calor
brutal, mas nada a que já não estivéssemos habituados.
Chegámos a Barcelos, cidade se destino para hoje.Apressámo-nos a encontrar o albergue de donativos para marcar lugar e pousar as mochilas, pois na entrada da cidade tínhamos visto uma praia fluvial e tivémos de ir dar um mergulho.
De volta para o Albergue comprámos a comida para o jantar, mas na
cozinha ninguém se entendia com o fogão e nós não fomos de modas.
Pegámos no nosso fogão e cozinhámos tudo ali sem problemas nenhuns. Eles
ficaram algo impressionados e até pediram para tirar fotos.
Apercebemo-nos também que a grande maioria dos peregrinos come em
restaurantes, mas depois regressam todos e sentam-se no espaço comum
onde nós comíamos e admiraram a nossa comida. Além disso conhecemo-nos
todos um pouco melhor, pois na prática serão estes os nossos parceiros
até Santiago.
Etapa n°11 21 Ago 2017
Hoje
já não saímos sozinhos. O Miguel, de Cantanhede, que tínhamos conhecido
no dia anterior, esperou por nós e como os nossos ritmos de passada
eram idênticos fizémos toda a etapa juntos. Hoje saímos às 6 com destino
a Ponte de Lima. Não houve tempo para grande paragens, pois queríamos
evitar os grandes calores que aí vinham e acabámos a manhã com 28km
feitos, almoçámos num café, onde eu e o JP comemos comida desidratada e o
Miguel um hambúrguer. Partimos de novo e chegámos a Ponte sa Lima por
volta das 15h, pelo que o Albergue ainda estava fechado, mas já tinha a
fila de 16 mochilas a marcarem lugar. Esperamos até abrir, pousámos as
coisas e fomos nadar um pouco para o rio Lima, num ambiente natural
super bonito.
O albergue tem cerca de 60 lugares e está lotado. Agora as coisas são um
pouco diferentes, já funciona mais cada um por si. Em vez de sermos
acarinhados pelas pessoas já somos mais explorados. Uma parte grande dos
peregrinos nem almoça para garantir lugar no Albergue.
Achámos também que ía estar muita gente a querer cozinhar ao mesmo
tempo numa cozinha tão pequena, mas para minha surpresa e satisfação
apenas cozinhámos 6 pessoas. Duas delas eram um casal de amigos alemães
com quem fizémos amizade e acabámos por ficar bastante tempo à conversa.
Temo-nos vindo a aperceber, mesmo nas folhas de inscrição dos albergues
,que eu e o JP somos os mais jovens. Há outras pessoas com cerca de 18
anos, mas vêm com os pais.
Etapa n° 12 22 Ago 2017
Acordei
com muita remexida no albergue e fui ver as horas, podia o despertador
não ter tocado, mas não, ainda só eram 5h da manhã e já estava toda a
gente de pé. Não sei se era ansiedade, medo de perder lugar no albergue
ou da tão temida subida que tínhamos pela frente. O que é certo é que
nós mantivémos a nossa rotina e só saímos já passava um pouco das 6
horas, que aparentemente já era muito tarde.
Pusémos o nosso
ritmo, bebemos o nosso café como sempre e seguimos sempre em passo
largo. Quando terminámos a subida, alagados em água, é certo, mas já
tínhamos passado praticamente toda a gente que tínhamos visto em Ponte
de Lima. Fizémos todas as nossas paragens como de costume e chegámos a
Valença por volta das 15h, cansados muscularmemte e com os pés moídos de
tanta calçada. Mesmo assim ainda fomos dar um passeio pelo Forte de
Valença, onde eu já tinha estado numa visita de estudo e curiosamente
também a caminho de Santiago. Tudo isto só depois de um bom banho e de
já termos lavado a roupa.
Cozinhámos e jantámos no jardim do
albergue na companhia da Sandra, de Barcelos, com quem depois voltámos
ao Forte. Foi um final de tarde super agradável.
Etapa n°13 23 Ago 2017
Quando
o nosso despertador tocou já estávamos, outra vez, praticamente
sozinhos no albergue. Arrumámos tudo e começámos a etapa que tinha como
destino Mós ou Redondela, conforme corresse o dia.
Assim que saímos de Valença passámos logo a fronteira. O que acaba por ser um marco para nós, uma mini-meta.
Por volta da hora de almoço ela decidiu parar e esperar pelo seu companheiro que ficara bastante para trás. Nós continuámos, pois pretendíamos chegar a Mos antes de almoço para ficarmos descansados. E assim foi. Mal lá chegámos fomos a dois ou três cafés ver o preço das cervejas para escolher o sítio onde almoçar e encontrámos logo a Raquel, francesa, que já nos conhecia e que nos disse que o Albergue já estava cheio. Depois encontrámos o Miguel que disse que a senhora de um dos cafés tinha um género de albergue onde ele apenas pagou um euro para dormir. A oferta parceu-nos logo interessante. Fomos ao café, com ele, pedir albergaria e a senhora disse que estava muito cheio, se quiséssemos íamos para o sótão e pagávamos 6€ cada um. Nem lhe dei resposta. Saímos e fomos para outro café onde aquecemos a comida e bebemos uma cerveja equanto o meu telemóvel carregava. Demorámos cerca de 2h, mas não foram perdidas. Conhecemos alguns outros portugueses e ajudámos uns Irlandeses a traduzir uma notícia de Barcelona, onde eles vão descansar depois de acabarem o caminho. Quando foram pagar a sua conta trouxeram duas cervejas para nós como forma de agradecimento. Entretanto chegaram outras duas alemãs que se fartaram de rir conosco.
Mas já se estava a fazer tarde e ainda tínhamos bastantes kilometros para percorrer até Redondela.
À chegada a Redondela procurámos um supermercado e fizémos uma sandes enorme para cada um, "soube a pato". Ainda não tínhamos onde dormir e não o podíamos fazer na cidade porque estava tudo cheio, então continuámos no caminhos mais uns 3km, onde entrámos numa mata e instalámos as nossas hammocks.
Acabámos a fazer cerca de 40km, e no dia seguinte apenas teríamos de fazer 20km pelo que dormimos até às 8h. Mas por volta das 4h da manhã começaram a passar peregrinos. Parece que isto deixou de ser os Caminhos de Santiago e passou a ser uma "Corrida ao Albergue". Felizmente viémos preparados para dormir na rua.
~