Residentes da Casa Diocesana do Clero visitam Porto de Mós

 



 

Na quarta-feira, dia 9 de Junho, os residentes da Casa do Clero fizeram uma primeira saída em grupo depois do início da pandemia em Março de 2020. Um ano e três meses depois tiveram a oportunidade de rumarem até ao Centro da Vila de Porto de Mós.

Foi um momento de respirar algum ar novo foram daquele que respiram todos os dias entre as paredes da Casa do Clero. Só por este fato foi uma visita que proporcionou uma grande alegria entre os participantes.

Por outro lado, ficaram muito felizes por visitar o museu do Município com o privilégio da Guia ser a própria diretora do museu. Entre algumas peças expostas a diretora do museu ficou agradavelmente surpreendida por conhecer o autor de um estudo referido em algumas peças expostas.

Por outro lado, alguns sentiam-se extremamente felizes pelo fato de estarem a recordar os tempos antigos em que eles próprios passaram por Porto de Mós e aqui exerceram o seu ministério sacerdotal por algum tempo nomeadamente:

P. David Gaspar (coadjutor de Joaquim Henriques de 14 de Outubro 1956 a 31 de Dezembro de 1959);

Padre Ramiro (coadjutor de Joaquim Henriques de outubro de 1961 a 1969);

P. Sousa (coadjutor do P. Bonifácio de 16 de Novembro de 1968 a Novembro de 1969);

P. Melquíades – pároco de Janeiro de 1988 a Setembro de 2001;

Estes sacerdotes saborearam de modo especial o calor da tarde soalheira e o ar que respiraram nesta vila.

O almoço-convívio realizado no salão paroquial de São João e toda a cavaqueira que seguiu foi o momento alto de toda esta visita a Porto de Mós.

Para a Casa Diocesana do Clero de Leiria-Fátima, para todas as funcionárias da Casa e para os residentes que vieram até a esta vila o nosso agradecimento e votos de muita saúde e muitas felicidades.








Um dos visitantes escreveu na sua página do Facebook:


EM TERRAS DE

DOM FUAS ROUPINHO

Como crianças felizes – não é verdade que se diz que os velhos são crianças duas vezes – como crianças felizes, depois de sermos acomodados com todo o cuidado e muito carinho pelas pessoas que cuidam de nós, partimos, serra abaixo, cada qual acarinhando do na sua mente e à sua maneira, a expectativa de um bom passeio, depois de tanos messe de confinamento.

Não sei exactamente o que se passou nos outros carros, mas imagino que o ambiente seria o mesmo: pelo caminho íamos sendo informados de alguns pormenores que vinham avivar o espirito de família, que nunca agradeceremos suficientemente a Deus e a quem para ele contribui: aqui mora a enfermeira x… ali a auxiliar tal… acolá a enfermeira Y… este é o café da assistente z… olhem, esta é a minha casa!

Eu apreciava em silêncio, porque não me ocorriam comentários adrede, claro. Mas também porque ia encantado com paisagem, apesar do sacrilégio daqueles monstros, ao serviço do progresso, dizem; eu, ao contrário, acho que estão sobretudo ao serviço das multinacionais, que nos levam o dinheiro e a saúde.

E vem-me à mente a lenda do rei muçulmano que, seduzido pela beleza da serra, por ali andaria com frequência, passando as noites na alcáçova do castelo; aí, onde o teria surpreendido Fuas Roupinho, que, vindo de Leiria, um pouco mais a norte, com os seus homens, a coberto precisamente da beleza da paisagem, tomou a castelo e aprisionou o rei descuidado.

Deste herói fala o Gama, na Índia, ao Catual, como narra Camões (“Os Lusíadas” VIII, 17-18).

"Vês este que, saindo da cilada,

Dá sobre o Rei que cerca a vila forte?

Já o Rei tem preso e a vila descercada:

Ilustre feito, digno de Mavorte!

Vê-lo cá vai pintado nesta armada,

No mar também aos Mouros dando a morte,

Tomando-lhe as galés, levando a glória

Da primeira marítima vitória.

É, Dom Fuas Roupinho, que na terra

E no mar resplandece juntamente,

Com o fogo que acendeu junto da serra

De Abila, nas galés da Maura gente.

Olha como, em tão justa e santa guerra,

De acabar pelejando está contente:

Das mãos dos Mouros entra a feliz alma,

Triunfando, nos céus, com justa palma.

Falta recordar o que a tradição conhece melhor e que esteve na origem de um dos santuários marianos mais conhecidos no país e no estrangeiro, até que Fátima, por razões óbvias, o suplantou. 

Lendas… sussurra-me uma voz vinda não sei exactamente donde. Suspeito que de uns laivos de racionalismo simplista e consequentemente redutor, que se aninha no fundo de mim próprio.

De facto, as palavras “lenda”, “mito” e “tradição”, por múltiplas razões, que não vêm ao caso, estão particularmente desprestigiadas na nossa cultura ocidental; mas eu penso que não faria mal sermos um pouco mais humildes e estudar com carinho essas narrativas tradicionais, que apelidamos, às vezes apressadamente de lendas ou mitos, esquecendo-nos de que rejeitando em absoluto o seu conteúdo, corremos seriamente o risco de negar a alma do povo que as criou, conservou e eventualmente desenvolveu: e um povo sem alma não tem qualquer hipótese de sobrevivência com um mínimo de humanidade.

Vem-me esta ideia à mente, enquanto espero que as mesmas pessoas, com inexcedível zelo, nos preparem a comida: tão profundamente latinos que somos, não sabemos, mesmo com todos os limites que nos impõe a idade e a falta de saúde, conviver sem comer e beber (ainda que o beber seja mais grego). Espero e, enquanto espero, deixo que o pensamento acompanhe o olhar, da beleza da serra ao trabalho generoso das pessoas, passando pelo castelo, que vigia um casario onde o antigo, o medieval, se mistura, nem sempre em perfeita harmonia, com o moderno.

Será por isso que o que mais me encanta, é este convívio de gente com idades e experiências tão diferentes, criando um espaço onde nos podemos sentir pessoas com dignidade.

Dr. Ascenso Pascoal







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